NA AVALIAÇÃO DE CIENTISTA POLÍTICO, FICA MAIS DIFÍCIL PARA
DILMA VENCER NO PRIMEIRO TURNO. E AÉCIO DEIXA DE SER O FAVORITO PARA O SEGUNDO
Na avaliação do cientista político Christopher Garman, diretor do
Eurasia Group, consultoria especializada em Brasil e América Latina, o
cenário político muda consideravelmente com a morte do ex-governador
Eduardo Campos e a possível ascensão de Marina Silva à cabeça da chapa
do PSB. O processo eleitoral vai ficar mais difícil para a presidente
Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador Aécio Neves (PSDB).
"A
probabilidade de termos um segundo turno aumenta, porque a candidatura
de Marina tem um potencial eleitoral maior que o de Campos. Ao mesmo
tempo não se pode mais dizer que o Aécio seja o favorito para chegar ao
segundo turno. A probabilidade de Marina disputar com Dilma é maior",
afirmou.
As declarações de Garmam foram
feitas durante uma teleconferência com a participação de jornalistas e
cientistas políticos, organizada pela GO Associados, consultoria
multidisciplinar, que tem entre seus sócios o economista Gesner
Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade).
O cientista político lembrou que, quatro anos
atrás, Marina obteve 19% dos votos válidos da eleição para presidente,
pilotando uma campanha com poucos financeiros e quase sem tempo na TV.
Um dos principais motes de sua campanha era a renovação política. Na
avaliação de Garman, a força dessa bandeira aumentou nos últimos anos.
"Se
compararmos o ambiente eleitoral de hoje com o de quatro anos atrás, o
desejo de mudança e a insatisfação com a classe política são maiores
agora", observou. "Não é por acaso que o número de votos nulos e brancos
nas pesquisas de intenção de votos hoje estão num patamar razoavelmente
alto. Se for confirmada, a candidatura da Marina é muito competitiva.
Se transforma numa candidatura séria, com chances concretas de ganhar a
Presidência. Não diria que é a favorita, mas a probabilidade, a chance
de vitória dela não deve ser menosprezada."
Garman acredita
que, caso passe para o segundo turno, Marina tem mais chances de bater
Dilma que Aécio. "A estratégia do PT de polarizar a campanha com o PSDB
perde eficácia com Marina. Seja porque ela já foi do PT, seja por seu
perfil histórico. O quadro polarizante fica mais difícil. Isso significa
que a presidente Dilma perde o favoritismo? Isso é difícil dizer
agora."
A Eurasa, a consultoria dirigida por Garmam, vinha
desenhando até agora um cenário eleitoral diferente do que circulava
pela maioria das outras consultorias. Situava a probabilidade de
reeleição da presidente em torno de 60%.
De acordo com suas
explicações, a projeção era desenhada a partir de um banco de dados com
os resultados de 240 eleições ao redor do mundo, nos últimos vinte
anos. "Eles mostram que, quando tem um índice de aprovação acima de 40%,
o presidente é reeleito em mais de 80% das vezes. E Dilma tem 47% de
aprovação."
O cenário se mantém, na avaliação de Garner, se
Marina não for referendada pelo PSB para a cabeça de chapa. Ou se ela
não aceitar.
Ao falar do cenário pós-eleitoral, o analista
observou que as incertezas em relação a um possível governo de Marina
são maiores do que nos casos de vitória de Dilma e Aécio. "Se olharmos o
grupo de economistas que a assessoram, podemos deduzir que a sua
política econômica tende a ser mais liberal, alinhada com ajustes
fiscais", disse. "Ao mesmo tempo é uma política que tem um foco forte no
setor de meio ambiente, o que pode gerar alguns riscos no setor do
agronegócio. Não é uma candidata sobre a qual temos plena clareza sobre
suas convicções na área econômica."
A governança também
deve ficar mais difícil. "Toda a campanha dela deve ser focada na
questão da renovação da maneira de fazer política, do sistema político
multipartidário no qual se obtém apoio no Congresso por meio da
distribuição de ministérios a aliados. Pela maneira como ela discursa e
sabendo que tem convicções muito fortes, é possível que tente mudar esse
modelo de governança", disse. "Com o forte capital política que pode
ter e o apoio do PSB, seu estilo poderia trazer alguns riscos."
Marina
poderia enfrentar uma forte resistência no Congresso, especialmente na
bancada ruralista, que está distribuída em vários partidos.
Estadão SP
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