QUANDO FOI PRESIDENTE SUA IMPOPULARIDADE TINHA ALCANÇADO TAL
PATAMAR, QUE NENHUM DOS CANDIDATOS NA ELEIÇÃO DE 1989 – E FORAM 22 – QUIS TER O
SEU APOIO
José Ribamar Ferreira de Araújo Costa é
a mais perfeita tradução do oligarca brasileiro. Começou jovem na política,
conduzido pelo pai. Aos 35 anos, resolveu mudar de nome. Foi rebatizado por
desejo próprio. Alterou tudo: até o sobrenome. Virou, da noite para o dia, José
Sarnei Costa. O Costa logo foi esquecido e o Sarnei, já nos anos 1980, ganhou
um “y” no lugar do “i”. Dava um ar de certa nobreza.
Na história republicana, não há
personagem que se aproxime do seu perfil. Muitos tiveram poder. Pinheiro
Machado, na Primeira República, foi considerado o fazedor de presidentes.
Contudo, tinha restrita influência na política do seu estado, o Rio Grande do
Sul. E não teve na administração federal ministros da sua cota pessoal. Durante
o populismo, as grandes lideranças lutavam para deter o Poder Executivo. Os mais
conhecidos (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, entre outros)
mesmo quando eleitos para o Congresso Nacional, pouco se interessavam pela
rotina legislativa. Assim como não exigiram ministérios nem a nomeação de
parentes e apaniguados.
Mas com José Ribamar Costa, hoje
conhecido como José Sarney, tudo foi muito diferente. Usou o poder central para
apressar o “seu” Maranhão. Apoiou o golpe de 1964, mesmo demonstrando simpatia
para com Jango Goulart. Em 1965, foi eleito governador e em 1970 escolhido
senador. Durante o regime militar, priorizou seus interesses paroquiais. Nunca
se manifestou contra as graves violações aos direitos humanos, assim como sobre
a implacável censura. Foi um senador “do sim”. Obediente, servil. Presidiu o
PDS e lutou contra as diretas já. No dia seguinte à derrota da Emenda Dante de
Oliveira, enviou telegrama de felicitações ao deputado Paulo Maluf – que
articulava sua candidatura à sucessão do general Figueiredo – saudando o
fracasso do restabelecimento das eleições diretas para presidente. Meses
depois, foi imposto pela Frente Liberal como candidato a vice-presidente na
chapa da Aliança Democrática. Tancredo Neves recebeu com desagrado a indicação.
Lembrava que, em 1983, em fevereiro, quando se despediu do Senado para assumir
o governo de Minas Gerais, no pronunciamento que fez naquela Casa, o único
senador que o criticou foi justamente Ribamar Costa. Mas teve de engolir a
imposição pois sem os votos dos dissidentes não teria condições de vencer no
Colégio Eleitoral.
Em abril de 1985, o destino pregou mais
uma das suas peças: Tancredo morreu. A Presidência caiu no colo de Ribamar
Costa. Foram cinco longos anos. Conduziu pessimamente a transição. Teve medo de
enfrentar as mazelas do regime militar – também pudera: era parte daquele
passado. Rompeu o acordo de permanecer quatro anos na Presidência. Coagiu – com
a entrega de centenas de concessões de emissoras de rádio e televisão – os
constituintes para obter mais um ano de mandato. Implantou três planos de
estabilização: todos fracassados. Desorganizou a economia do país. Entregou o
governo com uma inflação em março de 1990 de 84%. Em 1989, a inflação anual foi
de 1.782%. Isso mesmo: 1.782%!
A impopularidade do presidente tinha
alcançado tal patamar, que nenhum dos candidatos na eleição de 1989 – e foram
22 – quis ter o seu apoio. O esporte nacional era atacar Ribamar Costa. Temendo
eventuais processos, buscou a imunidade parlamentar. Candidatou-se ao Senado.
Mas tinha um problema: pelo Maranhão dificilmente seria eleito. Acabou
escolhendo um estado recém-criado: o Amapá. Lá eram três vagas em jogo – no
Maranhão era somente uma. Não tinha qualquer ligação com o novo estado. Era
puro oportunismo. Rasgou a lei que determina que o representante estadual no
Senado tenha residência no estado. Todo mundo sabe que morava em São Luís, e
não em Macapá. E dá para contar nos dedos suas visitas ao estado que
“representou” por 24 anos
Espertamente, em 2002, estabeleceu
estreita aliança com Lula. Nunca teve tanto poder. Passou a mandar mais do que
na época em que foi presidente. Chegou até a anular a eleição do seu adversário
(Jackson Lago) para o governo do Maranhão. Indicou ministros, pressionou
funcionários, fez o que quis. Elegeu-se duas vezes para a presidência do
Senado. Suas gestões foram marcadas por acusações de corrupção, filhotismo e
empreguismo desenfreado. Ficaram famosos os atos secretos, repletos de
imoralidade administrativa.
Nas duas presidências Dilma teve grande
influência. Nomeou ministros, controlou estatais. Por puro oportunismo, na
última hora, apoiou o impeachment. No novo governo impôs na pasta do Meio
Ambiente o seu próprio filho e vetou ministros, como no recente caso envolvendo
o Ministério do Trabalho. E tudo isso sem ter mais mandato parlamentar.
O mais fantástico é que em mais de meio século de vida pública – como o célebre Pacheco de Eça de Queirós –, não é possível identificar uma realização, uma importante ação em prol do Brasil, nada, absolutamente nada.
Blog do Gilberto Lima
Nenhum comentário :
Postar um comentário