APRESENTADA NA CÂMARA, PROPOSTA PRETENDE USAR RECURSOS DE FUNDO
GERIDO PELA ANATEL PARA CUSTEAR TECNOLOGIA.
Em
meio a polêmicas protagonizadas por ministros e denúncias de redução de
investimentos em educação, um Projeto de Lei apresentado na Câmara dos
Deputados espera garantir o fornecimento de internet banda larga
individualizada para estudantes do 9º ano do ensino fundamental, ensino médio
e professores da rede pública durante a pandemia.
De
autoria do vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA), a proposta
acrescenta um parágrafo à lei do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), instituída em 2000 para assegurar o acesso à telefonia e
internet nas regiões do país com baixa
densidade demográfica e dinâmica econômica.
Segundo
dados da Câmara dos Deputados, o total arrecadado pelo fundo, desde a sua
criação, supera os
R$ 21,8 bilhões, mas os recursos não vêm sendo
aplicados para a expansão da telefonia por parte da Anatel. O autor recorda
que o artigo 5º da lei determina que ao menos 18% do Fundo deveria ser aplicado
em educação, mais
especificamente em estabelecimentos públicos de ensino, o que também não se comprova. O valor corresponderia
a R$ 3,9 bilhões.
Com
um total de 8 milhões de alunos inscritos do 9º ano ao ensino médio e mais um
milhão de docentes nas esferas municipal, estadual e federal, de acordo com o
último Censo, Jerry aponta ainda que a estimativa de custos para bancar o
acesso destes públicos à tecnologia seria de cerca de R$ 1,5 bilhão, por 10
meses, menos da metade do valor determinado como de uso obrigatório para
aplicação.
Além
da preocupação com a finalização do ensino fundamental por alunos do 9º ano e
da preparação dos alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o
deputado justifica a urgência do projeto com o provável crescimento da evasão
escolar pela falta de recursos que viabilizem a participação dos estudantes.
“O
PL quer assegurar a utilização de um fundo já existente para garantir
direitos”, frisou Márcio Jerry.
*Situação
do país*
Desde
março, com a suspensão das atividades presenciais e a adoção de aulas on-line,
cada vez mais estudantes têm abandonado as instituições de ensino. Dados mais
recentes do IBGE apontam que 11,8% dos jovens entre 15 e 17 anos — o
equivalente a 1,1 milhão de pessoas — estavam fora da escola em 2018. O risco
do aumento da evasão escolar vem crescendo pela dificuldade de acesso à
internet, gerando novos excluídos.
Um
relatório divulgado no fim de junho pela a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) informou que 40% de um grupo de mais
de 200 países não têm como oferecer apoio a estudantes no ensino a distância
durante a pandemia. No capítulo dedicado ao Brasil, foram feitas observações
quanto a escolas que aprovam estudantes que não assimilaram de fato os
conteúdos e as barreiras enfrentadas pela parcela negra, definidas como “legado
de oportunidades limitadas de educação”.
No
início de julho, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu um parecer com
orientações para a retomada gradual de aulas e atividades pedagógicas
presenciais no país. Apesar das sugestões apresentadas, o órgão reforça que o
retorno não dará conta de toda a oferta de aprendizado e que a presença do
ensino à distância será necessária até, pelo menos, 2021.
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