A INVESTIGAÇÃO REVELOU FORTES INDÍCIOS DE QUE GRANDE PARTE DAS CONTRATAÇÕES DE SANTA INÊS ERAM PRECEDIDAS DE NEGOCIAÇÕES DE PROPINA.
Da
assessoria
A Polícia
Federal, com apoio da Controladoria Geral da União, deflagrou, na manhã desta
quarta-feira, 27/04/2022, nas cidades de São Luís/MA, Santa Inês/MA, Caxias/MA
e Teresina/PI, a Operação Free Rider. A ação tem por finalidade desarticular
grupo criminoso responsável por promover fraudes licitatórias e
superfaturamentos contratuais no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde de
Santa Inês/MA, envolvendo verbas federais que deveriam ser utilizadas para a
compra de medicamentos e insumos hospitalares.
Constatou-se,
inicialmente, que o Município de Santa Inês realizava adesões fraudulentas a
Ata de Registro de Preços de outros municípios sem que houvesse o requisito de
“vantagem” para a administração pública, posto que, em um dos casos
investigados, havia o sobrepreço de 215%.
Os contratos investigados, que somam mais de 8,5 milhões de
reais, envolvem uma empresa sediada em Teresina/PI, a qual deveria fornecer
diversos medicamentos e insumos hospitalares para o município de Santa Inês/MA.
Apesar do alto valor das contratações realizadas pela Secretaria de Saúde
daquele município, há informações nos autos indicando que, em determinados
períodos, estariam faltando materiais básicos no hospital e rede pública
municipal, tais como seringas, soro fisiológico, fios cirúrgicos e remédios
psicotrópicos, obrigando os cidadãos a procurarem atendimento hospitalar em
municípios vizinhos.
A
investigação revelou fortes indícios de que grande parte das contratações de
Santa Inês eram precedidas de negociações de propina, possivelmente repassada
para os integrantes da organização criminosa por meio de empresa fictícia,
criada para essa finalidade.
A
organização criminosa é composta, basicamente, por três núcleos: núcleo
criminoso com atuação na Prefeitura, núcleo criminoso com atuação na Secretaria
de Saúde e núcleo criminoso empresarial.
O núcleo
da Prefeitura seria composto pelo Prefeito municipal e servidores da Prefeitura
vinculados ao setor de compras e licitação, a exemplo da Secretaria de
Administração, Departamento de Licitação, Diretoria de Compras e Gabinete do
Prefeito.
O núcleo
criminoso da Secretaria de Saúde é encabeçado pela Secretária de Saúde e
servidores subalternos, que também cumprem ordens do Diretor de Compras e dos
demais envolvidos no setor de licitação.
O núcleo
empresarial, sediado em Teresina/PI, é composto pelo sócio da empresa
contratada, seu sobrinho e um funcionário, os quais realizam diversas
movimentações bancárias, com saques semanais de quantias vultosas em espécie,
além de facilitarem o esquema de “montagem” dos processos licitatórios, os
quais resultaram na contratação da empresa.
Diante
desses fatos, a Polícia Federal cumpriu 18 (dezoito) Mandados de Busca e
Apreensão e 07 (sete) Mandados de Constrição Patrimonial, com valores que
chegam a 8,5 milhões de reais.
Também
foram imediatamente afastados do cargo o Prefeito Municipal de Santa Inês, a
Secretária de Saúde, a Secretária de Administração, o Chefe do Setor de
Licitação, o Diretor de Compras, a Chefe de Gabinete do Prefeito e mais outros
dois servidores municipais, ligados às fraudes licitatórias.
Foram
suspensos os pagamentos da empresa contratada de forma fraudulenta e os
empresários investigados tiveram suspensos os seus direitos de participar em
licitações e de contratar com órgãos públicos.
Ao todo,
mais de 70 (setenta) policiais federais cumpriram as determinações judiciais
expedidas pelo Tribunal Regional Federal da 1a Região, que decorreram de
Representação elaborada pela Polícia Federal.
Se
confirmadas as suspeitas, os investigados poderão responder por fraude à
licitação, superfaturamento contratual, peculato, crime de responsabilidade
praticado por prefeito (Decreto-Lei 201/67), corrupção ativa, corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa, com penas que podem ultrapassar
40 (quarenta) anos de reclusão.
A
operação foi batizada de Free Rider que, do inglês, significa “carona”, devido
ao modus operandi da organização criminosa, que utiliza o instituto jurídico da
adesão a Ata de Registro de Preços de outros municípios, procedimento também
conhecido por “carona”, para tentar maquiar a irregularidade do processo
licitatório, previamente montado e superfaturado.
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